ademir

segunda-feira, 23 de junho de 2014

Pato-mergulhão

Mergus octosetaceus

Biologia e conservação  no Parque Nacional da Serra da Canastra e entorno (MG)


MACHO - APÓS MERGULHO...COM AS PENAS LEVEMENTE ERIÇADAS.
Autor:Sávio Bruno

Fotos e textos do livro de Sávio Freire Bruno, gentilmente cedidos para esta postagem, meu agradecimento pela atenção e disponibilidade em atender.

O Pato-mergulhão talves seja uma das espécies brasileiras mais representativas da resistência dos ambientes naturais ante a destruição antrópica. (Henrique Rajão)

Categorizado sob o critério da União Internacional para Conservação da  Natureza como criticamente ameaçado de extinção, é considerado uma das aves aquáticas mais raras do mundo

LOCAIS PARA PRESERVAÇÃO DA ESPECIE
Serra da Canastra - Minas Gerais
Jalapão - Tocantis
Chapada dos Veadeiros - Goiás


Autor:Sávio Bruno

Distribuição geográfica
Ave exclusivamente sul-americana. ocorre em regiões desconexas de sua área de distribuição histórica destacando-se, no Brasil as bacias hidrografias dos rios São Francisco, Tocantis, Paraná, Doce, Araguaia, Paraíba do Sul e Itajaí. Há registros de sua presença também no Paraguai e Argentina.

Habitat
Exímio pescador que persegue sua presa no ambiente aquático. Portanto, a agua cristalina permite que ele visualize a presa.
Neste contexto, o ambiente mais favorável ao estabelecimento  de populações de patos-mergulhões são rios de  florestas tropicais, caudalosos e ricos em corredeiras, altitudes que atingem até 1.300 metros. São também rios de agua límpida e oxigenada que flui entre rochas, tão comum em seus leitos.

Autor:Sávio Bruno
Livro do pato-mergulhão (capa), de onde tiramos os textos, para esta postagem.

Caracteristicas/descrição
De acordo com a incidência de luz, a cor de suas penas adquiri tonalidades distintas, próprias de um fenômeno conhecido com iridescencia, no qual algumas superfícies tem a capacidade de reproduzir cores encontradas no arco-iris. É o caso das penas dos beija-flores, com também do pato mergulhão. Os adultos apresentam a porção baixa do pescoço e o peito um cinza-acastanhado, com delicadas interseções de branco. Da cabeça, surge um penacho nucal, que no macho é normalmente maior. Esse penacho foi fundamental para estabelecimento do nome cientifico da especie Ao descreve-lo, em 1.817, o naturalista francês Vieillot contou oito finas penas nessa estrutura. Estas penas lhe lembraram seta - dai, octosetaceus.
O bico negro, fino, estreito e retilíneo é recurvado nas extremidades, particularmente na superior. Ambas as porções são serrilhadas, que garantem a fixação da presa.
Machos e femeas são bastante semelhantes, mas, quando colocados lado a lado, além da frequente diferença do penacho, o macho costuma ser um pouco mais robusto, especialmente com relação a cabeça. Seus pés, como na agrande maioria das aves, são anisodáctilos, ou seja, possuem três dedos dirigidos para frente e um para trás.
A muda consiste na renovação das penas e, regra geral, ocorre duas vezes por ano: a muda parcial ou pré-nupcial ocorre antes da nidificação; a completa ou pós-nupcial, após esta.


Autor:Sávio Bruno

Camuflagem
Na natureza, os animais evoluíram conjuntamente em seu ambiente de origem, desenvolvendo mecanismos de defesa que não asseguram, mas pelo menos aumentam suas chances de sobrevivencia. Entre estes mecanismos, destaca-se a camuflagem.
O pato-mergulhão camufla-se com admirável eficiência em seu meio, o rio, com suas pedras e margens. Nestas, também pode esconder-se em meio à folhagem que ali se desenvolve, tanto durante alguma atividade, como, por exemplo, a pesca ou simplesmente enquanto permanece parado, silencioso e atento, esperando que alguma ameaça se afaste.
Quando repousa sobre uma pedra, sua cor e forma se assemelham à própria rocha.


Acima falamos de camuflagem, como forma de defesa. Aqui o autor se camuflou também, para poder observar, fotografar e estudar.

Alimentação
O pato-mergulhão é um exímio pescador. Muitas aves piscívoras, como garças e socós, utilizam estratégias que incluem movimentos lentos ou mesmo a espera paciente, até que, com o bico, desfiram o golpe certeiro na presa. O pato-mergulhão  pesca ativamente, explorando a agua, nadando na superfície com a cabeça submersa e efetuando movimentos de vaivém com o pescoço. O bico longo,  fino e serrilhado favorece enormemente sua destreza na pesca, que deverá sempre ocorrer em aguas de boa visibilidade, ou seja aguas limpas e translúcidas. O lambari (Astyanax sp.) faz parte da sua dieta


CASAL - ALIMENTANDO
Autor:Sávio Bruno

A  femea aproxima-se do macho, interessada em apanhar o lambari (Astyanax sp.), que ele capturou

Reprodução
Formado o par, permanecem unidos, vivendo em um mesmo território, por toda vida. Por isso são considerados monogâmicos sedentários. Na Serra da Canastra, o período reprodutivo abrange o fim do outono e os três primeiros meses do inverno: inicia-se em maio e se estende até agosto, mês que nascem os últimos filhotes da temporada.. De posse de um território, o ponto de partida do casal é decidir onde será estabelecido o ninho. A partir da segunda quinzena de maio e nas primeiras horas da amanhã, o casal visita a área onde intenciona estabelecer seu ninho, nadando lado a lado, observando detalhadamente a região.

O ninho
Próximo às margens do rio, o ninho poderá ser estabelecido em uma árvore, em barrancos rochosos ou não, mesmo na própria rocha.

Ovipostura
Posto o primeiro ovo, a pata dará continuidade à  ovipostura com intervalos de 24 a 48 horas, ou, eventualmente 72 horas. Desde o primeiro ovo, ela já começa a retirar penugens do seu corpo, especialmente do ventre. A pata põe até oito ovos, de coloração branca cremoso, e medindo, em média, 61,6mm.
A incubação dura cerca de 33 dias, mas pode chegar até 38 dias.
O casal parece reutilizar o ninho por algum tempo. Acompanhamos um ninho ativo por cinco anos, até que no ultimo o casal o abandonou com sete ovos.

Corte e cópula
A cópula ocorre mais freqüentemente pela manhã. Para melhor entendimento da corte e da copula, pode-se destacar três momentos: pré-copulatório (corte), copulatório e  pós-copulatório. No caso do pato-mergulhão, pode-se considerar que a cópula propriamente dita ocorre quando o macho esta sobre a femea, prendendo seu penacho nucal com o bico, de forma a sustentar-se sobre ela. A cópula dura em média nove segundos.
Na corte, as femeas exibem para os companheiros certas ações (displays) mais ou menos constantes, como o estiramento do corpo. Ao mesmo tempo, em 50% das copulas dirigem a eles um vocalização rouca. Os machos contam com um repertório de ações mais rico, com pelo menos 12 displays que se alternam, durando em média de 30 segundos a um minuto. Entre a mais frequentes, se destaca a chamada "falsa pesca", em que ele afunda parcialmente a cabeça na agua, como se estivesse pescando.


Sávio  Freire Bruno, autor do livro, e coordenador do projeto pato-mergulhão, em trabalho de campo.O miracemense Sávio Freire Bruno, filho do saudoso médico e político Dr. Sebastião Bruno, é diretor do Hospital Veterinário da Universidade Federal Fluminense, professor vinculado à Faculdade de Veterinária há longos anos e da disciplina Zoologia na faculdade de Biologia. 

Predadores
A lontra logicaudis é tida como um potencial predador do pato-mergulhão.
Também se incluem alguns gaviões.

Ameaças antrópicas
As ameças ao pato-mergulhão tem sido classificadas em cinco categorias: desconhecida, baixa, média, alta e critica reconhecendo a necessidade desta abordagem, tais categorias serão consideradas somente em situações oportunas. A seguir, trataremos apenas das ameaças ocasionadas direta e indiretamente pela ação humana.

MACHO - CUIDANDO DA PLUMAGEM
Autor:Sávio Bruno

Perda e degradação de habitat
-Interferencias na paisagem, desde e imprudentes e ilegais transformações até a destruição quase completa das caracteristicas naturais de certas regiões, ou parte delas, tem sido a maior causa de perda de diversidade biológica no país, e não seria diferente em relação ao pato-mergulhão.
-Uma das mais graves consequencia do desmatamento e da substituição da vegetação nativa por gramíneas para pastagens são as voçorocas, formas avançadas de erosão. A terra desprendida neste processo, que envolve a força das chuvas, segue em direção ao rio e ao mar - são toneladas de solo perdidas a cada voçoroca.
-A presença de animais de criação no rio, como cavalos e bois, é outro motivo de graves prejuízos ambientais. A vegetação local sofre com o pisoteio, há risco de poluição fecal, deslocamento de solo e contaminação por parasitos ou outros patógenos.
-O cerrado tem sido destruído não só para dar lugar as pastagens, como também para a implantação de lavouras de soja, milho e outros grãos, além da cana-de-açúcar. Recentemente começam a aparecer grandes plantações de eucalipto.
-Muitos  esportes, difundidos como ecológicos ou de aventura, nem sempre tem praticantes conscientes.
-Além destes citados acima as  queimadas, caça e predação de ovos, a mineração são constantes ameaçadas a vida do pato-mergulhão.


Autor:Sávio Bruno
Agradeço aqui mais uma vez ao amigo Sávio Freire Bruno, autor do livro PATO-MERGULHÃO, e coordenador do do Projeto Mergus - UFF, desenvolvido por ele e sua equipe na Serra da Canastra, iniciado em  2002.  Trabalho espetacular para conhecimento e preservação da especie. Devorei o livro em poucos dias, escrito de maneira técnica, porém, com leveza e romantismo daqueles que amam a natureza, as várias formas de vida...lembrou-me muitas vezes nós mineiros, na nossa simplicidade observando o pato-mergulhão com seus filhotes, em aguas límpidas lutando para sobreviver. Mais umas vez obrigado por nos presentear com belo estudo e livro. Parabéns Sávio Freire Bruno e sua equipe. Viva o Pato-mergulhão um sobrevivente da Serra da Canastra...até quando...(Ademir Carosia)




Uma foto espetacular, muito interessante, o autor, Sávio Bruno escondido entre as pedras, como é dificill localiza-lo.


Referencia da matéria

BRUNO, Sávio Freire. Pato-mergulhão: biologia e conservação do pato-mergulhão no Parque Nacional da Serra da Canastra e entorno (MG). Niterói: Editora da UFF, 2013. 255 p.




AVES - NUMERO 15





2 comentários:

  1. Muito boa a matéria. Parabéns Ademir! Adorei as camuflagens: animal e humana.

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  2. Muito enriquecedora sua materia, trazendo ao nosso alcance mais uma novidade!
    E também ao finalizar, a sua forma generosa de agradecimento com o autor. Com suas palavras, você diz: Lutando para sobreviver e até quando... referindo-se ao Pato Mergulhão. É esta a triste realidade em que se encontra a espetacular natureza nos dias de hoje, em tudo no que se refere vem estes dizeres e a expressão extinção.
    Parabéns ao autor Sávio Bruno e a você Ademir, por tamanha dedicação.

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