Família: CONVOLVULACEAE
Nome científico: Ipomoea batatas (L.) Lam.
Nome popular: batata-doce
Nativa da América Tropical, ocorrendo naturalmente entre a Península de Yucatán, no México, até a Colômbia, Ipomoea batatas, a popular e deliciosa batata-doce, possui registros arqueológicos indicando que seu uso remonta há mais de 10 mil anos. Cultivada há pelo menos 2 mil anos pelos povos meso-americanos, por conta de suas raízes tuberosas denominadas batatas - de polpa alaranjada que serviam como alimento - foi levada à Europa por Colombo, tornando-se uma das hortaliças mais populares e comercializadas no mundo. Atualmente, além de alimentar convencional, é considerada PANC - por conta de suas folhas nutritivas e saborosas, ornamental - por causa da bela folhagem e das coloridas e vistosas flores, e medicinal.
A batata-doce se apresenta como uma erva decumbente, de caule herbáceo, verde ou arroxeado, prostrado, enraizando nos nós, bastante ramificado, com hastes entrelaçadas, levemente pubescentes. As raízes são tuberosas, bastante entumescidas e de sabor adocicado, de cor rosa ou arroxeada, com o interior alaranjado, podendo apresentar outras cores e também formas diversas (alongada, fusiforme ou redonda) conforme a variedade. Possui filotaxia alterna, com folhas truladas, lobadas, membranáceas, de ápice acuminado. As inflorescências são axilares, tipo cimeira, com flores gamopétalas, campanuladas, infundibuliformes, de cor rósea a branco-arroxeada, com fundo da corola mais escuro. Fruto tipo cápsula, pouco frequente, com sementes marrons.
Considerada a segunda raiz mais consumida no mundo, a batata-doce fica atrás apenas da mandioca (Manihot esculenta - Euphorbiaceae). Muito utilizada na alimentação humana, é cultivada, principalmente, por pequenos produtores em culturas de subsistência e para autoconsumo devido à facilidade do cultivo, à resistência a pragas e pelo rápido desenvolvimento mesmo em solos pobres em nutrientes. Suas raízes tuberosas apresentam cerca de 30% de matéria seca, com cerca de 85% de carboidratos onde o amido é o componente principal; isso faz da batata-doce um alimento altamente energético. Possui ainda fibras, vitaminas A, B, C, fósforo, magnésio, potássio, ferro e cálcio na sua composição. Nos últimos anos, ganhou destaque entre os praticantes de atividade física, tornando-se uma espécie de elixir da boa forma, já que é um alimento muito procurado pelo seu baixo índice glicêmico, ou seja: fornece energia de modo equilibrado, sem aumentar os picos de insulina no sangue; não é à toa que a batata-doce era usada como alimento por índios mexicanos antes de longas caminhadas... A batata-doce é consumida geralmente cozida, sendo saboreada com ou sem temperos, ou utilizada no preparo de tortas e bolos doces ou salgados, purês e doces glaceados (como o marrom-glacê). Pode também ser consumida frita, como petisco, semelhante à batata-inglesa. Na indústria, é transformada em fécula para o preparo de doces em pasta ou cristalizado e utilizada na fabricação de ração para animais. É ainda considerada uma potencial matéria-prima para a produção de etanol e de cerveja artesanal.
O que pouca gente sabe, no entanto, é que da batata-doce não se come apenas as raízes tuberosas. Suas folhas e brotos também são comestíveis e muito nutritivos, além disso são digestivos e possuem propriedades anti-oxidantes. Com tantos predicados, é claro que ela é uma PANC. Após o cozimento obrigatório, pois não devem ser consumidos crus, possuem um sabor delicioso, sendo usados como recheio para tortas e bolos salgados, refogados, omeletes, empanados ou, até mesmo, como acompanhamento.
Na medicina popular, a batata-doce também tem inúmeras aplicações etno-farmacológicas. Suas folhas e raízes são utilizadas para o preparo de chás e apresentam alto potencial anti-inflamatório, recomendados em casos de inchaços, no combate à ansiedade, na promoção da lactação e no fortalecimento do sistema imunológico. Além disso, a medicina tradicional indica as folhas da batata-doce para tratamento de dores de dente, inflamações bucais, redução do colesterol, diabetes e gonorreia. Vários estudos científicos comprovaram que as folhas possuem substâncias com propriedades antioxidantes, adstringentes, bactericidas, fungicidas, antiproliferativa, antidiabética, anti-anêmica, antimutagênica e imunomoduladora.
A batata-doce ainda possui destaque em manifestações religiosas e etno-culturais. No Candomblé, a batata-doce é um alimento utilizado como oferenda a Oxumaré, o orixá responsável pelos dias e os anos, simbolizando a continuidade e a permanência. Para os Krahô, um dos povos Timbira, indígenas habitantes do Cerrado com terras no nordeste do Tocantins, a batata-doce é Jàt, um alimento importante principalmente durante os "resguardos" - períodos onde ocorrem ritos de passagem (matrimônio, gestação, nascimento ou funeral), quando outros alimentos são proibidos. Para eles, a batata-doce é uma espécie vegetal companheira, que chega a ser personificada, cultivada como se fosse um parente. Desde o plantio até a colheita, o cultivo da batata-doce é permeado por rituais fundamentados nas relações de parentesco entre os membros da tribo, criando-se uma associação simbólica entre os índios e o vegetal cultivado, chamada de aparentamento. O respeito e o engajamento à esta conexão entre humano e vegetal são os principais atributos de uma boa colheita.
O nome do gênero, Ipomoea, origina-se das palavras gregas ῐψ (ips), uma espécie de verme da videira, e ὅμοιος (hómoios) que significa semelhante, de modo que o nome significa algo semelhante a um verme, devido ao curso inconstante de seus caules, por serem prostrados. Seu epíteto específico, batatas, é o nome pelo qual os nativos a chamavam em taíno, idioma original das Bahamas e Antilhas.
Com o uso que remonta há mais de mais de 10 mil anos e cultivada há mais de 2 mil, tendo seu cultivo intensificado devido à busca por uma alimentação saudável e alternativa, a batata-doce ainda é ornamental e medicinal... Com tantos predicados, esta espécie, com certeza, já faz parte da família...
Autoria: Sandra Zorat Cordeiro.
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